Há 48 anos iniciava-se a Ditadura
Militar no Brasil. Fico estarrecida de ler algumas publicações que utilizam o
termo “comemorar”. Comemorar o que? Deveria ser lembrado sim, mas como um dia
de luto para aquela época horrível. Li em vários jornais que militares de todas
as partes do Brasil estão comemorando essa data e a opinião de muitos com quem
já conversei sobre esse assunto é unânime “foi o período em que o Brasil mais
se desenvolveu”, defendem uma teoria elaborada por militares (que contaram com
a ajuda de alguns setores da impressa) de que o comunismo seria imposto no
Brasil e que com isso os comunistas pegariam tudo o que nos pertencia e
distribuiriam entre todos os brasileiros.
Tudo o que sei é através de livros,
dissertações, teses e documentários, não vivi esse período da história, mas
muitos amigos professores, meus familiares e pessoas próximas viveram e trazem
consigo um passado que reflete até hoje na sociedade brasileira. Impossível
ficar indiferente ou imaginar que foi uma época de glória e desenvolvimento
para o Brasil.
Se depender de mim, como professora e
cidadã brasileira não deixarei que seja esquecido.
Segue
abaixo uma citação de um dos livros que uso em minha dissertação do jornalista
e escritor Elio Gaspari que escreveu quatro importantes livros sobre
esse período : “A Ditadura Envergonhada”
volume 1, “A Ditadura Escancarada”
volume 2, “ A Ditadura Derrotada”
volume 3 e “A Ditadura Encurralada”
volume 4. Quem se interessa por esse assunto não deve deixar de ler. A citação
que segue pertence ao volume 2.
A tortura sancionada pelos oficiais-generais a partir de 1968
tornou-se inseparável da ditadura. Não há como entender os mecanismos de uma
esquecendo-se a outra. De um lado a tortura dá eficácia á ordem ditatorial, mas
de outro condiciona-a, impondo-lhe adversários e estreitando-lhe o campo de
ação política.(...) a tortura embaralha-se com a ditadura e torna-se o elo
final de uma corrente repressiva radicalizada em todos os níveis, violentando a
própria base da sociedade. (...) Quando tortura e ditadura se juntam , todos os
cidadãos perdem uma parte de suas prerrogativas e, no porão, uma parte dos
cidadãos perde todas as garantias. (...) Foram raros os que nada disseram.
Muitos resistiram às 48 ou 72 horas críticas, dando tempo para que se
desconectassem as ligações que conheciam. Outros preservaram segredos que
sobreviveram ao porão. Poucos, contudo, conseguiram resistir àquela rotina em
que a perspectiva da continuação dos suplícios pode se prolongar por semanas,
até meses.
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